domingo, 28 de março de 2021

Madrugada na alma!


Edna Maria Tavernard Leite
"08/08/1948
+ 28/03/2021

Um mês sem minha rainha.... Fiz uma breve oração.

Te entrego minha dor  Jesus, como oferta ao desagravo das dores de teu coração e do coração de Tua Mãe Imaculada, já que as palavras proferidas da minha oração são tão ineficazes e insuficiente, pois a pobreza do meu vocabulário não sabe expressar tamanha dor  e saudades para serem ditas em Tua presença Misericordiosa. 
Não leves em conta Senhor a pobreza das palavras da minha oração, pois elas são simples, teem pouca eficiência diante da dor que meu pequeno coração que grita. Passaram-se dias, passarão meses e anos e nunca e nem nada que eu disser surpreenderá a dor com palavras que sejam eloquentes e que condizam com a realidade dolorosa de ter perdido a minha mãezinha. 
Quando encontrarei palavras que definam essa dor? Quando ela (a dor) vai embora!? Algum dia ela deixa de ser latejante!? Quando? Responder-me Senhor... Quando ela deixará de ser pungente e cortante? Quando a dor sentida encontrará palavras que expressem sua fundura e realidade?
E Deus me responde: Nem no tempo as palavras se igualará o tamanho de sua dor. Filha, não há tradução terráquea em nenhuma língua, em nenhum idioma ou dialeto que fotografe o seu sentimento de dor e amor. Eu sou o seu Deus e passei por isso, vendo morrer meu Filho Unigênito e não houve nenhuma palavra que eu possa ter dito que tenha expressado aquela dor. Mas utilizei desse sofrimento como uma taba real de salvação para a humanidade ainda que ela (a humanidade) seja hostil e ingrata. Dei tudo que Sou e todo meu amor para que quando vocês passassem por isso, sentem comigo na ceia do amor e da misericórdia e mesmo sem palavras alguma, façam da dor uma oferenda regada de amor.
E eu, na insignificância de ser quem sou, entendi que não se traduz fidedignamente a morte de uma mãe. Mais compreendi que o coração sempre saberá! Até o céu mãezinha! Até o céu minha rainha!
Obrigada por falares comigo Senhor e estares tão disponível para ouvir o meu coração quando as palavras perdem a força da realidade que queria ser dita.
(Bebel Tavernard) - vivendo na madrugada da dor. Parafraseando São João da Cruz: vivendo na noite escura da alma.

Eu te amo Mãe!

quarta-feira, 17 de março de 2021


TEMPORAL NA ALMA

Na madrugada de ontem os céus desabaram, assim como toda realidade cortante e dolorosa sobre a minha cabeça. Como se os céus chorassem comigo a minha dor e expulsaram o grito preso em minha alma ferida de uma morte que também foi minha. Será que existe dor mais forte e pungente que se suporte sentir que a dor de amor? 
Ver o "trono" vazio da minha rainhazinha, onde nenhuma de suas "princesinhas" ousa sentar porque o cedro que você firmemente segurava, nossas mãos frágeis e pouco habilidosas não conseguem e não se atrevem segurar. 
Percebo que as palavras estão voltando pouco a pouco pro meu paupérrimo vocabulário que ainda busca incessantemente palavras que definam a ausência mais cortante da minha vida. Dentro de mim, meu coração sangra, esmagado e sem costuras insiste em pulsar de amor a cada lembrança doce e afetuosa que tenho de ti. O céu rasgou-se na noite passada e certamente não foi à toa, ele relatou para todos o segredo detalhado da dor que meu coração ardentemente sofria e somente eu sabia. 
Em meio a relâmpagos e trovejadas gritaram comigo os céus e uma centelha da minha dor foi desvendada.
 Hoje meus joelhos rezam não para amenizar a minha dor tão necessária e realmente sentida, meus joelhos rezam para que aqueles que como eu, perderam suas mãezinhas não percam o amor do Seu Salvador. Ele que é o único que obtém o pode de fazer corações esmagados pulsarem. Rogo também por aqueles que têm ainda suas mães, para que no dia de suas partidas não chorem de remorso, mais de amor. Porque hoje, chorar de amor não me tem sido tarefa fácil, imaginem se fosse de remorso?! Cuidem de suas rainhas, aproveitem enquanto vossos tronos estão ocupados porque haverá um dia que vocês vão buscar o mais doce dos perfumes (que é o cheiro de mãe) e não encontrarão! Aproveitem para sentir o gosto e o cheiro de suas comidinhas caseiras, façam elogios, saboreiem com calma, pois um dia sua mesa sentirá, chorará com você até pelo cuscuz não mais servido. Não espere sentir essa aguda dor pra dizer que a ama! Digam sempre a sua rainhazinha "eu te amo" na vida/em vida e nas palavras, porque não sabemos quanto tempo nos resta. Pois o relógio  da vida é o mesmo da morte... E quando ele para, a bateria da ressurreição será vista somente pela fé. 
Até o céu mãezinha! E enquanto isso meu coração “...Guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo!” (Carolina – Chico Buarque)
Entretanto, lembrem-se: Não há temporal que não passe... Mesmo em dias nublado o sol está lá, ainda que não sintamos o seu calor!
Com dor e amor: Bebel Tavernard

domingo, 7 de março de 2021

Adeus a Rainha



A sete (7) dias a rainha foi embora, nas malas vazias levou só alma. Não pense que foi pouca coisa... Sua alma era gigante, seu amor era infinito e na finitude de sua carne carregou consigo todo amor do mundo. 
No olhar profundo, no último beijo, abraço desolado, porém serena de uma voz frágil quase sem conseguir respirar esforçou-se para da o último adeus e abencoar-me... Como sempre fazia a cada pequena saída minha o seu "Vá com Deus e Nossa Senhora" ou  "Deus te abençoe" palavras da rainhazinha da minha vida que sempre acompanhava a sua 'princesinha' indefesa, porém aquelas palavras era força e sustento para o caminhar nas vias incertas e dolorosas da vida. 
Naquele dia, sol escondido, tristeza no peito, preocupação e lágrimas se misturavam em ambos os olhares, os gritos do último "EU TE AMO MÃE" ainda ecoam nas lembranças marcadas pela dor e pela saudade. Sua voz fraquinha não diminuíram a força das palavras que jamais voltarei a ouvir nessa terra de isolamento e desolamento.
A minha alma que era terra habitada por vida e flores hoje ver-se em solidão desértica, ainda que todo o mundo fizessem as malas e se mudassem pra cá, a minh'alma do deserto não sairia. 
Como se vive sem mãe? Como se suporta o insuportável? Já perguntei isso olhando nos olhos de Renan, que a tão pouco passou pelo mesmo crivo da dor e do pranto ao perder sua rainha e sem nada responder-me nas palavras, suas lágrimas que choraram comigo, no silêncio de palavras doces e consoladoras, abraçou-me. Pois ali, entendi que no dicionário da Terra não há idioma nem dialeto algum que traduza tamanha dor da orfandade que bateu à nossa porta e veio hosperdar-se aqui dentro de nossas almas. 
Porém não há em meu coração vestígios algum de ingratidão ou revolta, pelo contrário! Cada vez que penso na minha rainhazinha, elevo um grande louvor de gratidão a meu Deus amado porque assim como Jó, posso dizer: 
"Nu saí do ventre de minha mãe, nu voltarei. O Senhor deu, o Senhor tirou: bendito seja o nome do Senhor!" (Jó 1,21)
Ao arrancar da Terra lindas flores nesse tempo pandêmico, a colheita de Deus me fez ver a mais preciosa rosa de meu jardim sendo podada! Aquela que cuidei com mais amor e zelo foi colhida para fazer parte do ramalhete que Jesus mesmo fez para sua Santa Mãe. 

“Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.” (Antoine de Saint-Exupéry) 

Não estou reclamando, nem questionando os céus por tal decisão... Quem de nós indo a um lindo jardim, não colheríamos a mais linda flor? 
Hoje só tenho a agradecer por ter passado nove meses guardada no ventre mais aconchegante e rico  de amor, experimentado tantos anos de colo afetuoso e sentido cheiro de mãe por todos esses anos de vida.
A missão dela certamente se cumpriu, com grande esmero, refinada no zelo pelos seus, orante e incessante intercessora cuidou de nós como que apontando o Reino dos Céus o tempo todo, na doação de si, nos gestos, nas palavras, no trabalho diário, na oração constante... Nunca pensava em si, antes dela tinha o "nós"! Oh quão santa era minha rainha! Todas as vezes que a via rezar a Nossa Senhora de Fátima (pela qual tinha grande devoção), eu pensava comigo mesma: "Eis aí uma Santa ouvindo o que a outra diz". 
Que saudades meu Deus... Tão tardiamente a gente aprende a amar aquela que já nos amou antes de nascermos... Porque AMAR é construir um castelo; custa, leva tempo e aprende-se aos poucos, porém quando nasci o castelo de amor da minha rainha já estava pronto, aguardando minha chegada e eu... Oh quão pequena sou, ainda estou em construção e aprendendo a lição do amor que ela passou a vida inteira ensinando. Obrigada mãe, no coração está anotado cada lição. E a primeira delas é que amar dói! E como dói! 

“O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.” (Antoine de Saint-Exupéry) 

Até o céu! 
Bebel Tavernard

sexta-feira, 5 de março de 2021

Saudades de quem perdeu uma mãe

Edna Maria Tavernard
*08/08/1948
+28/02/2021



-Alguém viu elas? 
-Elas quem?
-Elas, as palavras! Onde foram morar?  Como encontrá-los, quando tudo é dor, silêncio e caos? 
Bem, partiu minha rainha, certamente essa foi a oferta de amor mais difícil que tive de entregar a Deus e a Nossa Senhora pois ofertei minha mãezinha a Deus para o desagravo das dores do coração de Jesus e do imaculado Coração de Maria, pela Igreja, pelo papa e pelos pobres pecadores (que somos todos nós).  
Mais como é doloroso ver sendo colhida a flor mais linda do meu jardim... 
E eu como estou? No deserto?  De
certo que não, mamãe plantou muita coisa em mim pra sobrar só deserto. Mais confesso que a floresta que em mim ela cultivou durante todos os meus anos de vida, passou pelo maior vendaval da minha história e só em olhar o meu interior vejo uma enorme floresta com todas as árvores arrancadas, caídas no chão, com as raízes pra fora da terra. 
-Mais me respondas: E agora, o que será dessa floresta? Tão devastada e inóspita? Ainda há esperança?
A floresta devastada dentro de mim, com grande esforço e voz frágil responde:
-Esperança sempre tem... Porque para uma floresta tão vasta e frutífera, ainda com suas árvores no chão e as raízes arrancadas brutalmente da terra, a sementes estão lá e o irmão TEMPO fará todo trabalho de reflorestamento e o plantio que parece perdido florirá (um dia florirá)! 

Nesses dias todos não consegui falar, me expressar e nem escrever uma palavra, porque aquela que me guardou tão amorosamente em seu ventre durante nove meses, me protegeu, me acolheu, me deu amor e colo a vida inteira não precisou arrumar as malas para partir.  Seu olhar profundo de amor, o seu último "Deus te abençoe, eu te amo"  na voz frágil de alguém que passou pelo crivo da dor quase a totalidade de sua vida e nos últimos momentos quando todos pensaram que ela tinha perdido a última batalha, ela vestiu-se com vestes  de núpcias e entrou na grande festa eterna do Cordeiro de Deus. 
Ele (o próprio Deus) ao visitar seu leito (esse que foi seu portal para a eternidade), estendeu-lhe as mãos e disse: Filha, acompanhe-me, pega nas mãos da tua mãe, a Virgem Maria e nós te guiaremos ao trono de flores que nós mesmos, juntamente com os anjos e santos preparamos pra ti. Do lado direito, a mão estendida para o Pai das Misericórdias, do outro lado, as mãos afetuosas  e maternais da Virgem Santíssima, com o olhar terno e sorriso nos lábios, a abraçou e cochichou duas coisas no ouvido da minha rainha. Disse: 
-Vem filha, não tenhas medo, seja bem vinda de volta ao Reino que meu filho preparou pra ti, estávamos te esperando ansiosamente! (E a Virgem a abraçou e a levou).
Entretanto com um olhar de amor por quem deixou aqui, a Virgem Mãe, sensível como é... Percebeu que minha mãezinha nos olhava com amor, saudades e preocupação, se virou pra ela novamente e disse:
-Edinha filha querida, não fostes vós quem me entregou suas meninas? Agora elas são minhas e estão sob o meu amparo, cuidado e proteção. Vem! 
(Assim partiu minha rainha, com a Rainha do Céu que ela tanto amava ao lado do Pai das Misericórdias); a saudade dilacerante, cortante, pungente ainda me hospeda, mais aguardo ansiosamente as delícias consoladoras que me trará no dia do meu encontro eterno com minha eterna amada mãe, amiga, paceira, companheira das missões... Agora sou toda gratidão a Deus por ter-me dado EDINHA por mãe... Obrigada meu Jesus pela mãe que me deste, por me oportunizar viver tantos anos ao lado do meu verdadeiro amor! Obrigada Jesus porque sei que tu mesmo juntamente com a Virgem Santíssima a acolhesse num abraço eterno! 
Até o céu minhas mãezinha! Eu eternamente te amarei e aguardarei nosso reencontro ansiosamente!

Bebel Tavernard