domingo, 7 de março de 2021

Adeus a Rainha



A sete (7) dias a rainha foi embora, nas malas vazias levou só alma. Não pense que foi pouca coisa... Sua alma era gigante, seu amor era infinito e na finitude de sua carne carregou consigo todo amor do mundo. 
No olhar profundo, no último beijo, abraço desolado, porém serena de uma voz frágil quase sem conseguir respirar esforçou-se para da o último adeus e abencoar-me... Como sempre fazia a cada pequena saída minha o seu "Vá com Deus e Nossa Senhora" ou  "Deus te abençoe" palavras da rainhazinha da minha vida que sempre acompanhava a sua 'princesinha' indefesa, porém aquelas palavras era força e sustento para o caminhar nas vias incertas e dolorosas da vida. 
Naquele dia, sol escondido, tristeza no peito, preocupação e lágrimas se misturavam em ambos os olhares, os gritos do último "EU TE AMO MÃE" ainda ecoam nas lembranças marcadas pela dor e pela saudade. Sua voz fraquinha não diminuíram a força das palavras que jamais voltarei a ouvir nessa terra de isolamento e desolamento.
A minha alma que era terra habitada por vida e flores hoje ver-se em solidão desértica, ainda que todo o mundo fizessem as malas e se mudassem pra cá, a minh'alma do deserto não sairia. 
Como se vive sem mãe? Como se suporta o insuportável? Já perguntei isso olhando nos olhos de Renan, que a tão pouco passou pelo mesmo crivo da dor e do pranto ao perder sua rainha e sem nada responder-me nas palavras, suas lágrimas que choraram comigo, no silêncio de palavras doces e consoladoras, abraçou-me. Pois ali, entendi que no dicionário da Terra não há idioma nem dialeto algum que traduza tamanha dor da orfandade que bateu à nossa porta e veio hosperdar-se aqui dentro de nossas almas. 
Porém não há em meu coração vestígios algum de ingratidão ou revolta, pelo contrário! Cada vez que penso na minha rainhazinha, elevo um grande louvor de gratidão a meu Deus amado porque assim como Jó, posso dizer: 
"Nu saí do ventre de minha mãe, nu voltarei. O Senhor deu, o Senhor tirou: bendito seja o nome do Senhor!" (Jó 1,21)
Ao arrancar da Terra lindas flores nesse tempo pandêmico, a colheita de Deus me fez ver a mais preciosa rosa de meu jardim sendo podada! Aquela que cuidei com mais amor e zelo foi colhida para fazer parte do ramalhete que Jesus mesmo fez para sua Santa Mãe. 

“Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.” (Antoine de Saint-Exupéry) 

Não estou reclamando, nem questionando os céus por tal decisão... Quem de nós indo a um lindo jardim, não colheríamos a mais linda flor? 
Hoje só tenho a agradecer por ter passado nove meses guardada no ventre mais aconchegante e rico  de amor, experimentado tantos anos de colo afetuoso e sentido cheiro de mãe por todos esses anos de vida.
A missão dela certamente se cumpriu, com grande esmero, refinada no zelo pelos seus, orante e incessante intercessora cuidou de nós como que apontando o Reino dos Céus o tempo todo, na doação de si, nos gestos, nas palavras, no trabalho diário, na oração constante... Nunca pensava em si, antes dela tinha o "nós"! Oh quão santa era minha rainha! Todas as vezes que a via rezar a Nossa Senhora de Fátima (pela qual tinha grande devoção), eu pensava comigo mesma: "Eis aí uma Santa ouvindo o que a outra diz". 
Que saudades meu Deus... Tão tardiamente a gente aprende a amar aquela que já nos amou antes de nascermos... Porque AMAR é construir um castelo; custa, leva tempo e aprende-se aos poucos, porém quando nasci o castelo de amor da minha rainha já estava pronto, aguardando minha chegada e eu... Oh quão pequena sou, ainda estou em construção e aprendendo a lição do amor que ela passou a vida inteira ensinando. Obrigada mãe, no coração está anotado cada lição. E a primeira delas é que amar dói! E como dói! 

“O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.” (Antoine de Saint-Exupéry) 

Até o céu! 
Bebel Tavernard

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